O que esperar do primeiro disco de estúdio da Whatever Happened to Baby Jane, ‘Luz del Fuego’

Confira 12 curiosidades que conseguimos pescar no show de pré-estreia do primeiro álbum de estúdio do duo mais nervoso do estado
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Foto de capa: Mozine/Instagram.
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No último sábado (14), a banda Whatever Happened to Baby Jane incendiou o Stone Pub com a pré-estreia de Luz del Fuego, aquele que em breve se tornará seu primeiro álbum de estúdio. Com a plateia repleta de fãs, amigos, músicos e as fiéis Teresas (sua legião feminina de fãs), Lorena Bonna (voz e guitarra) e Vanessa Labuto (voz e bateria) tocaram por quase uma hora. No repertório, o duo conseguiu encaixar não só as músicas que integram o novo disco, mas também aquelas já lançadas no EP Inferno de Vida e no single Dolores—ambos de 2017.

Durante a noite—que também contou com a abertura da novata banda Local—rolou um pouco de tudo. O público da Praia do Canto viu desde gritaria em massa e inacabáveis moshs a projeções eróticas e até mesmo confusões. Uma pré-estreia realmente memorável.

Confira abaixo doze curiosidades sobre o disco Luz del Fuego que conseguimos captar com a apresentação de sábado.

1) O formato duo funciona muito bem

A primeira preocupação de qualquer um quando uma banda perde um integrante e decide seguir sem um substituto sempre é a mesma: a sonoridade sairá prejudicada? No caso das Warebas, a resposta felizmente é “não!” Logo de cara já nos deparamos com um palco reformulado para suprir o formato de duo: bateria de um lado e guitarra do outro. O posicionamento em si já criou um belo contraponto visual que, quando aliado ao som, deixou a experiência ainda mais agradável. Os timbres de guitarra estavam mais graves e agressivos, as levadas de bateria cada vez mais urgentes e poderosas e os vocais desavergonhadamente gritados e estridentes. Tudo isso foi o suficiente para preencher muito bem a ausência de um baixo por ali. Que alívio!

2) Elas estão bem mais confortáveis no palco

É difícil dizer se foi uma forma de suprir a ausência de um terceiro elemento ou simplesmente obra do acaso, mas ficou bem nítido que o duo está muito mais à vontade em cima do palco. Quando não estava cantando, Lorena corria despreocupada de um lado para o outro. Já Vanessa, por sua vez, socava a pobre bateria como se a odiasse por tanto amá-la. A interação da banda consigo mesma também ficou muito mais evidente, com ambas as instrumentistas trocando olhares de tempos em tempos e tocando uma de frente para a outra sempre que podiam. A energia e o entrosamento transbordavam junto de todo o suor que escorria por seus corpos. Lindo.

3) O álbum terá onze músicas

Se nos basearmos no set-list que a banda seguiu na noite de sábado, podemos muito bem afirmar que o álbum contará com onze faixas. Elas são canções bem incisivas, sagazes e divertidas, que falam sobre fluxo menstrual (“Menarca”), sapatonas (“Kekel’s Trucker Club”), ressaca (“Inferno de Vida”), uma psicopata que resolveu virar puta (“Undress to Kill) e mais. Veja a lista completa:

1) “Burn”
2) “Menarca”
3) “Kekel’s Trucker Club”
4) “Manequim”
5) “Inferno de Vida”
6) “Radicals”
7) “Tomboy”
8) “Scissors Dyke”
9) “Undress to Kill”
10) “Laura”
11) “Luz del Fuego”

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4) O disco é bem rápido, como um nocaute

Eram cerca de duas horas da manhã quando Lorena e Vanessa subiram ao palco e deram início às canções de Luz del Fuego. Algumas músicas depois, elas anunciaram que a prévia havia chegado ao fim e que agora tocariam as músicas antigas. Quando olhei no relógio, vi que ele marcava duas e trinta e três, o que dá ao álbum cerca de meia hora de duração. Algum problema nisso? Claro que não! Não podemos esquecer que o EP de estreia da banda tem menos de sete minutos em quatro canções. Uma simples regra de três inclusive daria ao álbum uma duração de dezenove minutos, ou seja, pare de reclamar, porque estamos no lucro!

5) O duo parte para São Paulo com Fabio Mozine ainda nessa semana

Pouco antes de iniciar a quinta música do repertório, a baterista Vanessa Labuto fez sua primeira interação com o público. Dando uma folga às baquetas, ela comentou a importância daquela noite e também aproveitou para lembrar ao público que ela e Lorena partem para São Paulo ainda nos próximos dias. Ambas vão à capital paulista acompanhadas de seu padrinho e agora produtor, o músico e empresário Fabio Mozine (Läjä Records, Mukeka di Rato, Merda e Os Pedrero)—que esteve todo orgulhoso lá no meio da galera durante toda a apresentação. Em São Paulo, o trio segue rumo ao icônico estúdio Costella, onde não só gravarão o álbum com o músico e co-produtor Alexandre Capilé (Sugar Kane, Water Rats), como também farão um show ao lado do grupo We Suck As A Band. A apresentação acontece no próximo dia 22—horas antes de seu retorno ao Espírito Santo.

6) A Baby Jane ainda é uma banda da galera

Elas podem até estar indo para São Paulo gravar o seu álbum de estreia num estúdio renomado ao lado de várias pessoas influentes do meio, mas uma coisa definitivamente permanece: elas não perderam a humildade. Durante a apresentação de sábado, todos aqueles elementos que tornam a experiência de um show de hardcore mais íntima e humana estavam lá: eventuais perdidas de tempo, sequência de acordes esquecidas, correias arrebentadas, baquetas se chocando, instrumentos acidentalmente desplugados e por aí vai. Alguma das duas se abalou com isso (como se fossem irritar algum produtor ou contratante por uma eventual transgressão de profissionalismo)? É claro que não. Tudo isso apenas mostrou que elas ainda são uma de nós e que se mantêm fiéis à sua proposta.

7) Vanessa é uma excelente frontwoman

Ao fim das onze canções de Luz del Fuego, alguns dos integrantes da banda Local foram convidados para subirem ao palco e tocarem com as Warebas a antiga “Deixa Ela Em Paz”. Apropriadamente vestindo uma camisa preta onde lia-se “Get The Shit Done”, Vanessa retirou seu microfone do pedestal, levantou-se e cedeu seu lugar na bateria a um dos convidados, revelando um lado que talvez poucos (ou ninguém) conhecia: ela é uma invejável frontwoman! Sua performance foi inacreditável. Ela cantou, gritou, correu de um lado para o outro, se jogou na galera, pulou no mosh e de quebra ainda transformou uma das melhores faixas do EP Inferno de Vida num clássico. Atitude à flor da pele!

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Vanessa Labuto em seu momento frontwoman (Karina Loyola).
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8) Por melhores que sejam, as músicas antigas já soam ultrapassadas

Com exceção de “Deixa Ela Em Paz”, que foi tocada com uma nova roupagem, as demais canções antigas que passaram pelo repertório do duo naquele show curiosamente soaram… ultrapassadas. Embora “Sábado à Noite”, “Blablablah” e “Teresa” ainda sejam músicas arrepiantes e de tirar o fôlego, elas não soam mais as mesmas quando comparadas ao material de Luz del Fuego. Talvez esse tenha sido o momento do show em que a ausência da ex-baixista Ignez Capovilla realmente se fez presente—como era de se esperar, visto que suas linhas de baixo e o contraponto que a doçura de sua voz traziam à violência daquelas músicas são elementos inquestionavelmente fundamentais. Em todo o caso, as músicas novas são mais agressivas e com o dobro do peso das antigas. O reflexo disso esteve na própria reação do público, que vibrou mais nas novas do que nas clássicas. Ponto para Luz del Fuego.

9) Cadê o patrocínio da Campari?

Quem segue as redes socais da vocalista e guitarrista Lorena Bonna sem dúvidas está acostumado a vê-la empunhando seu inseparável copo de Campari. Assim sendo, é claro que num dos shows mais importantes da banda isso não poderia ser diferente. Enquanto tocava, seu drink favorito estava bem ali ao seu lado, no canto direito do palco. Tinha até um cara na plateia que gritava como um louco: “Lorena! Campari! Campari! Campari!”, até que ela finalmente levantou seu copo como se brindasse com ele. Aliado a isso, as cores vermelhas provenientes das luzes da casa e da camisa que ela usava (a Lajaineken) deram ainda mais destaque à sua bebida. Agora só falta um patrocínio!

10) O mosh não para!

Embora o show tenha sido curto, uma coisa foi constante do início ao fim: o mosh! A pista do Stone Pub foi tomada por uma incrível e praticamente ininterrupta dança visceralmente alucinógena das mais variadas pessoas—sobretudo mulheres (isto é, as Teresas). Toda essa movimentação involuntária que divertia e inspirava a performance do duo só parava durante os intervalos das canções, quando o mosh era brevemente substituído por gritos calorosos de “Foda!”, “Lolô, te amo!” e “Campari”.

11) Nem mesmo o show da Baby Jane consegue sair isento de atitudes machistas

Pelo visto, atitudes machistas conseguem se adentrar até mesmo num ambiente em que o público é predominantemente feminino e as canções da atração principal falam em alto e bom tom sobre feminismo, luta e resistência. É realmente difícil de acreditar que isso tenha acontecido num rolê de minas, mas, ao que tudo indica, um cara teve a audácia de deliberadamente jogar bebida em algumas das garotas que estavam se divertindo no mosh. Estaria ele pensando que, por elas estarem alucinadas ali naquela roda, deixariam algo do tipo passar? Achou errado, otário! A reação veio quase que instantaneamente quando uma das garotas se dirigiu ao cara esbravejando contra sua lamentável atitude. Sem saber o que fazer, ele rapidamente se mandou para sabe-se lá onde. Infelizmente, o episódio ocorreu durante uma das músicas e a banda não percebeu o que se passou. Ah, como teria sido lindo ouvir um daqueles belos esporros vindo de Lorena ou Vanessa. Droga!

12) Em suma, Luz del Fuego tem tudo para ser a grande afirmação da Whatever Happened to Baby Jane

Se o EP Inferno de Vida causou um certo burburinho no universo da música alternativa nacional quando foi lançado—há quase um ano, no dia 21 de Julho—, Luz del Fuego definitivamente causará um estardalhaço. Suas canções são intensas, viscerais, ríspidas, desavergonhadas e guturais. Ora punk, ora hardcore, ora metal, elas revelam um DNA invejável—sendo Mercenárias, Bikini Kill, Black Flag e Exploited algumas das bandas que me vêm à mente. A própria faixa título, com sua dinâmica incrivelmente rica, é uma das melhores. Começa com uma introdução que mais se assemelha a algo que o Slayer poderia ter feito, até que chega seu verso, com uma batida feito uma locomotiva desenfreada que serve como cama de um dos vocais mais diabólicos e cheios de presença que Lorena e Vanessa já produziram. Luz del Fuego definitivamente será a grande afirmação da Whatever Happened to Baby Jane como uma banda que veio para carregar a tocha do renascimento do movimento riot grrrl nacional.

Texto: João Depoli.

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