Rodrigo e Mozine no Azoofa Live: “A gente começou no punk não era pra pegar mina, a gente tinha uma postura e tem uma postura!”

Em papo com Daniel Branco, músicos falam sobre música, política, Vila Velha e Vitória, projetos paralelos e seus discos favoritos
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Foto de capa: Reprodução/Facebook.
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Na noite dessa terça-feira (17), dois grandes nomes do hardcore capixaba estiveram juntos para uma hora de entrevista no quadro Azoofa Live, do canal AzoofaRodrigo Lima (o vocalista do Dead Fish) e Fabio Mozine (proprietário da Läjä Records e membro das bandas Mukeka di Rato, Merda e Os Pedrero). Em meio a nachos com guacamole e várias garrafas de cerveja jamaicana, os amigos levaram uma conversa super descontraída com o apresentador Daniel Branco e falaram sobre diversos assuntos.

Para dar início ao papo, logo de cara veio aquela tradicional pergunta sobre a suposta rixa entre Vitória e Vila Velha. “Estamos muito bem representados pela música capixaba hoje aqui, certo? Rodrigo que é de Vitória, Mozine é de Vila Velha. Rola um lance meio Los Angeles e Boston assim, cara?” questionou. “Porra nenhuma, isso é mentira, isso é bobeira que a gente inventou. As pessoas têm que deixar de ser bobas, deixar de acreditar em tudo que a gente fala. Mentira do caralho, tudo amigo pra cacete,” respondeu Mozine sempre bem-humorado. “As pessoas são muito bobas, cara. Elas levam tudo muito a sério. Elas se levam muito a sério.”

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Em seguida, o papo virou para a situação das bandas de Mozine. “Na moral, eu vou ser obrigado a responder em primeira pessoa—eu não posso falar pelas bandas. Eu ando um pouco cansado,” admitiu o músico sobre sua primeira banda, o Mukeka di Rato. “Nós nunca ganhamos dinheiro com banda, sempre teve o amor envolvido. Chegou num ponto em que eu meio que não aguento mais pegar avião, ir pro lugar. Eu não consigo chegar num lugar—eu não tenho capacidade de ir pro lugar e ir pro camarim. Eu vou pra rua dar teco com os moleques, beber cachaça, sacou? Eu não consigo, velho. Então isso me prejudica muito. Eu volto pra casa muito de ressaca, perco noites de trabalho,” confessou. “Hoje, o que eu quero é ir pra praia, voltar e ver o jogo do Flamengo.”

Já Rodrigo garantiu que não se sente desgostoso. “Eu fiz do Dead Fish o meu trampo. E eu, ao contrário do Fabinho, vou pro hotel, vou ler. Eu tenho amigos das antigas em todos os lugares. Os caras da banda costumam me sacanear: ‘O Rodrigo vai sair com o amigo dele antropólogo. Vai pro restaurante vegan comer com seu amigo antropólogo’,” divertiu-se o vocalista. “Cansado eu estou, mas assim, de ter um casamento com quatro pessoas, de nego que entrou e saiu da banda, algumas questões geracionais. Eu sou muito mais velho que todo mundo ali da banda. Eu sou muito mais velho que o público. Mas de resto, estou amarradão.”

Depois disso, o papo entrou na esfera da política. O apresentador contou o caso de um amigo que esteve no show de gravação do último DVD do Dead Fish para passar a Rodrigo uma faixa em que lia-se “Fora Temer”. Pouco antes de conseguir entregar o cartaz, uma garota quase estragou tudo ao tentar interrompê-lo: “Não mistura política com música.” Chega até a ser difícil descrever a decepção dos músicos ao ouvirem a história. “A gente começou no punk não era pra pegar mina, a gente tinha uma postura e tem uma postura,” pontuou Lima sobre o assunto. “Uma vez eu estava num bar e um cara falou: ‘O punk não tem nada a ver com esquerda.’ E eu falei: ‘Então tem a ver com o que? Com Paulo Maluf? Com Alckmin?’,” ironizou o vocalista. “Esse lance de política não ter nada a ver com música, puta que pariu, velho,” protesta Mozine com uma batida na mesa. “Eu perdi meu tempo 20 anos fazendo letras? Nego é muito burro, isso é inaceitável. A gente é tudo de esquerda, tudo petista. Vocês que não querem ouvir a gente, sai fora!”

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“Fora Temer” (Snapic).
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“Aí surge essa geração isentona: ‘Não, veja bem, são todos corruptos’. Espera aí! Qual é a ideia de um? Qual é a ideia do outro? O que que você acha melhor? O que é mais pra todo mundo? O que é mais pra geral? O que é mais pra preto? Pra mulher? Pra gay? Pra criança? Pra índio? Pra mim? Pra você? É a esquerda, brother,” complementa Rodrigo. “A esquerda quer isso. A direita quer odiar a gente, apenas isto,” finaliza Mozine antes do apresentador perguntar se os músicos já tinham votos definidos para as eleições desse ano. “Não, porque o meu candidato está preso,” responderam ambos quase que em uníssono.

+ Leia também: Primeiro Dead Fish e agora Mukeka di Rato: “Continuo a curtir a banda, mas meu voto é 17”.

Saindo da política, a dupla também discutiu sobre os projetos que têm além de suas bandas principais. No caso de Rodrigo, ele falou sobre a banda Oelefante. “Os caras são devagar. São os irmãos Buteri—Marcelo e Gustavo. Os caras têm a vida resolvida, tem seu trabalho, sua família. Enfim, eles não vão ficar me procurando todo mês pra fazer música,” afirmou Rodrigo sobre a demora num novo lançamento. O músico também disse que estará de férias no Espírito Santo no fim deste mês com a sua filha, mas que o grupo não é uma prioridade por agora. “Não quero saber de Oelefante não, mas eu acho um puta projeto legal”.

Mozine também aproveitou para falar sobre Os Incontestáveis, filme dirigido por Alexandre Serafini que chega aos cinemas no dia 09 de Agosto. Nele, o músico é um dos protagonistas ao lado de Will Just, guitarrista do grupo Muddy Brothers. “Vou falar com bastante clareza. A gente fez um road-movie. Se você perguntar pra mim assim: ‘Qual é o melhor road-movie do mundo?’ É Vanishing Point [Corrida Contra o Destino, de 1971], e eu não gosto muito, sacou? Eu não gosto de cinema, não gosto de filme. Eu não gosto muito de ver a minha pessoa lá. Pra mim foi um pouco penoso. Tentei fazer o melhor que pude,” confessou o baixista do Mukeka di Rato. “Não me sinto confortável me olhando. Eu acho que eu trabalhei honestamente. Foi uma grande produção. Um calor do caralho. Eu e Will de calça jeans apertadinha. Até a cueca era a mesma todo dia. Espero que seja um sucesso.”

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Além da conversa, os músicos também levaram alguns discos para o programa. Mozine levou o álbum homônimo de Roberto Carlos, lançado em 1966, e pediu a música “Querem Acabar Comigo”. “O cara era um jovem, caipira do caralho, igual a nós,” brincou o músico que também levou o vinil Alucinação (1976), de Belchior. Já Rodrigo chegou com os discos Amar Pra Viver ou Morrer de Amor (1982), de Erasmo Carlos, Lick it Up (1983), do Kiss, e Taking Liberties (1980), de Elvis Costello.

Assista abaixo ao programa na íntegra:

Texto: João Depoli | @joaodepoli.

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