Primeiro Dead Fish e agora Mukeka di Rato: “Continuo a curtir a banda, mas meu voto é 17”

Icônica banda de hardcore Mukeka di Rato divide “fãs” ao escancarar sua posição política “ainda mais”
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Mukeka di Rato (Crédito: Marina Melchers).
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“Fascista é quem prega racismo, machismo, homofobia, militarismo, punitivismo… Quem dá um murro na cara do fascista chama-se ANTIFASCISTA”, publicou a icônica banda canela-verde Mukeka di Rato em seu Instagram no último domingo (6), o fatídico dia das eleições. A frase veio como legenda de uma foto com o famoso desenho do burro da Läja Records onde se lê: “Não seja buro não vote em fascista”.

Com um posicionamento notoriamente à esquerda desde a sua formação em 1995, a banda nunca teve nada a esconder. Sua inclinação política está nos discursos individuais de seus integrantes e, obviamente, em quase todas as suas canções—vide “Nazi Tolices”, “Rinha de Magnata”, “Forró do Político Safado”, “Capetali$mo”, “Heróis da Nação Falida” e “Auxílio Paletó”. No entanto, a publicação acabou gerando alguns comentários mistos—para a surpresa de todos.

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“Zzzzzz Bolsonaro 2018!”, “Concordo por isso não votarei no Haddad e nem no Ciro”, “Tô aqui por causa do som. Não pela bandeira vermelha”, “Isso vamos votar no 17 fora facistas”, “#17 …fora facistas, comunistas, terraplanistas…”, “Isso fora a ditadura senão vamos virar a Venezuela #17”, “Quer goste quer não goste, é melhor Jairseacostumando, e vai ser de lavada no primeiro turno ainda”, “Continuo a curtir a banda, mas meu voto é 17” e “Meu gosto musical não tem nada a ver com meu caráter. Sou patriota, cristão e defendo condutas conservadoras. Sou formado, pago minhas contas, tenho discernimento, argumentos e capacidade para me colocar. Não defendo bandeira de partido e não tenho político de estimação. Já votei no PT. Aprendi. E vc?” são alguns dos comentários no mínimo inusitados que a publicação recebeu.

Felizmente, os verdadeiros fãs não demoraram muito para se manifestar em cima dessa incógnita.

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Publicação da banda no dia das eleições (Reprodução/Instagram).

“Coxinha que escuta Mukeka di Rato… Hhasuhiausihaush”, “Apoia fascista e cola na página do Mukeka, tá no lugar errado mano”, “Caraio quanto Bolsonazi e coxa na página do mukeka”, “Não consigo compreender como um coxinha consegue se identificar com as letras do Mukeka. Ainda vem aqui fazer campanha pra fascista pqp” e “Hahahaha Brasil é muito louco, punks votando em favor a ditadura. É como torturado fazer declarações de amor ao torturador” foram algumas das respostas postadas.

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No dia seguinte, a própria banda se manifestou fazendo referência à música “Nazi Punks Fuck Off”, do grupo californiano Dead Kennedys. “Banda referência pro Mukeka. A música serve para contextualizar um pouco o que vimos na interação do post de ontem”, diz a mensagem publicada na segunda-feira (7).

“You still think swastikas look cool/The real nazis run your schools/They’re coaches, businessmen and cops/In a real Fourth Reich you’ll be the first to go”, trecho de “Nazi Punks Fuck Off”.

Dead Fish

Situação semelhante aconteceu com o Dead Fish em 2015, ainda no Governo Dilma. “Somos da esquerda, se você é da direita e cola no show, você está no lugar errado”, publicou um dos assessores do grupo no Twitter após uma discussão sobre essa polarização política que na época pode-se dizer que ainda era tímida.

Rodrigo Lima, o vocalista da banda, até chegou a escrever uma extensa nota oficial que foi publicada no perfil do grupo no Facebook e, naturalmente, serviu para reforçar ainda mais o posicionamento do Dead Fish.

“Sim, é preciso lembrar que, somos uma banda de postura à esquerda no espectro político brazuca, não passarão racistas, homofóbicos, machistas, fundamentalistas muçulmanos ou cristãos, golpistas circunstanciais que apóiem uma intervenção constitucional militar ou quer o que isso queira dizer… Viemos de um nicho cultural, se é que podemos dizer assim, que prega a igualdade entre raças, à regulamentação do aborto com as mulheres tendo o direito de escolher o que fazer de seus corpos, a criminalização da homofobia, desmilitarização da polícia, reforma agrária, reforma urbana com transporte gratuito de qualidade e fim da especulação imobiliária e periferização das cidades, etc, etc à esquerda sempre. Essa é nossa pauta há vinte e quatro anos”, diz parte da mensagem (clique aqui para ver o texto na íntegra).

“O Dead Fish é a favor de uma pauta à esquerda, não uma pauta petista. É uma pauta de mudança de atitude também, de conscientização como indivíduo e como classe”, disse Rodrigo numa entrevista à Vice inteiramente sobre o ocorrido. “Há 24 anos a pauta do Dead Fish é essa, essa pauta não aconteceu ainda, e não acontecerá enquanto as pessoas não tiverem consciência de classe, consciência de postura, e continuarem cobrando barato uma coisa que vivemos há vinte anos. Estamos voltando no tempo, cara”.

Texto: João Depoli | @joaodepoli.

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