Os Últimos Humanos surgiram em meados de 2004 como uma banda antinacionalista que desejava perpetuar um “cenário underground autêntico e consciente” que aos poucos perdia forças. No entanto, o grupo não conseguiu se organizar e seguir adiante tornou-se impossível, forçando seus integrantes a encerrarem o projeto naquele mesmo ano.
Oito anos mais tarde, no apocalíptico 2012, o grupo decidiu que era hora de tentar levar sua proposta adiante mais uma vez e retomou suas atividades com uma sonoridade pautada no crust punk, anarco punk e hardcore oitentista. Desta vez, apostou em canções que transmitissem analogias sarcásticas da “obscura e má compreendida realidade” da época.
Lançou o disco Mundo Distorcido e seguiu com o intuito de “romper com os dogmas, arreios e presilhas que circundam o então dito rock and roll, a fim de anular-se com as influências culturais nacionais”. Entretanto, problemas internos forçaram a banda a mais uma vez encerrar suas atividades.
Apesar disso, em mais uma reviravolta em sua trajetória, o grupo há pouco anunciou que novamente está de volta ao circuito musical como uma banda funcional. Com uma apresentação agendada para o dia 12 de Maio, no Garage Pub, os Últimos Humanos pretendem voltar à ativa com um novo direcionamento, novas canções e um novo disco.
Confira abaixo a conversa que tivemos com o vocalista Henrique Vianna e o baixista Clovis Monteiro sobre o retorno do grupo, suas ideologias musicais e o futuro da banda.
João Depoli: Vocês formaram a banda em 2004, mas no mesmo ano colocaram o projeto em stand-by, voltando à ativa somente em 2012. Pouco depois, o grupo novamente encerrou suas atividades, resolvendo voltar aos palcos agora, em 2018. Qual a razão destas lacunas na trajetória da banda?
Henrique Vianna: Bom, o projeto Últimos Humanos é um projeto complexo, porque nós desenvolvemos músicas autorais através do experimentalismo seguindo o conceito do Punk, tendência essa que até hoje no Brasil não foi bem digerida por quem trabalha com música, principalmente aqui em Vitória, onde existe uma defasagem no cenário da contracultura. Então, como uma banda é composta por músicos, nós temos encontrado dificuldades em encontrar parceiros que conseguem incorporar o conceito de vanguarda do grupo.
Clovis Monteiro: Em Vitória, na época, a desestimulação para o artista autoral era exorbitante, não havendo muitos locais para expor nossos trabalhos. Mesmo fazendo eventos de forma alto gerida, o retorno era mínimo e ainda [tinha] o agravante de parceiros musicais que só atrasavam os projetos, [o que] facilitou mais ainda a nossa dispersão.
Qual foi o fator preponderante para o atual retorno dos Últimos Humanos?
Henrique: A maioria das bandas aqui no Brasil desenvolvem músicas a partir de fórmulas já prontas e, como no atual momento perdura essa deficiência — deficiência essa que os Últimos Humanos suprem muito bem —, além de que o conceito aplicado nas [nossas] letras são questões emergentes em relação ao nosso atual drama psicológico social, tínhamos [que] voltar.
Clovis: Muitas pessoas admiram o nosso estilo de som e, diante isso, sentimos a carência do público e vimos que aqui no estado tem muita gente que gosta de som honesto e bem feito.
O que vocês acham que mudou neste período em que estiveram afastados, tanto em termos individuais quanto em termos do cenário musical?
Clovis: Quase nada, voltamos mais por vontade própria.
Henrique: O que mudou foi que nós não queremos mais carregar caixas pra tocar.
Ainda existe espaço para a proposta musical e lírica dos Últimos Humanos?
Henrique: Sim.
Clovis: Desses anos pra cá, novas casas abriram em Vitória, dando espaço para o som autoral [e] isso foi ótimo.
Vocês afirmam que não consideram a banda como um produto, e que ainda estão em fase de laboratório e constate mutação. Em que estágio da experiência vocês se enquadram com este retorno?
Henrique: O som do Apocalipse.
Clovis: Tendo as influências musicais que cada integrante traz consigo, posso afirmar que ainda não conseguimos expor ao público nem um terço do que queremos fazer.
No próximo dia 12, vocês têm um show no Garage Pub com Drifting Bones, Fúria do Zigoto e Spôrro Grosso. O que vocês pretendem com este show?
Henrique: Gerar público.
Clovis: A nossa volta vai ser algo novo até para nós. Pretendemos levar para o público novas canções mais perturbadoras e muito conscientes pelo fato de ser os Últimos Humanos.
Em termos sonoros, a banda afirma buscar a ruptura com o passado e romper dogmas do rock n’ roll a fim de “anular-se com as influências culturais nacionais”. Como vocês diriam que conseguem efetivamente levar isso adiante em suas músicas?
Clovis: É bem trabalhoso e divertido ao mesmo tempo, mas temos sim influências nacionais — mas procuramos nos libertar dela por questões dos rótulos e da defasagem musical que vem acabando com a música brasileira.
Henrique: Os Últimos Humanos trabalha pela arte, ciência, experimentalismo e minimalismo.
E vocês ainda estão apoiados nestas canções ou já começaram a trabalhar num novo material?
Henrique: Sim. Esse novo trabalho estará com uma pegada mais Heavy Metal.
Clovis: Mesmo com a parada que a banda deu, nós continuamos a compor músicas. Essa volta será regada de muito psicodelismo com influências de bandas do conceito metal. Estamos em processo de gravação e em breve vai ter material novo na praça.
O que a banda planeja para o restante de 2018?
Henrique: Perturbar.
Clovis: Gravar o próximo álbum, fazer o máximo de shows possíveis e perturbar bastante.
Texto: João Depoli.