Entre dia e noite, Mary Jane exalta a liberdade feminina em seu primeiro EP solo

Notória por seu trabalho no Melanina MCs, cantora mostra que a luta continua com os três novos sons de ‘Lusco Fusco’
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Mary Jane (Crédito: Diego Capeletti).
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Depois de entrar em 2021 com a cinematográfica “Novo Narcos”, a rapper Mary Jane acaba de lançar ‘Lusco Fusco’, seu primeiro EP em carreira solo. Além de marcar sua primeira parceria com a Boogie Naipe, produtora de artistas como Mano Brown, Racionais, Liniker e Alt Niss, o registro chega cheio de atitude para exaltar a força das mulheres, tendo sido lançado especialmente no Dia Internacional da Mulher (8/3).

“É importante ser falado da liberdade de ser mulher, do espaço de fala que precisa [ser] ocupado, exaltado e respeitado”, ressalta a artista sobre a temática do EP, que, cabe ressaltar, não é nenhuma novidade pra ela. “São quase 10 anos no movimento dedicados principalmente às mulheres”, comentou a cantora em suas redes. “Seja fazendo gravação pra uma, seja fazendo arte de divulgação pra outra, seja trocando figurinos, e seja pelo principal motivo, LIBERTAÇÃO”. Cabe lembrar que em 2018 ela levou a discussão sobre a luta cotidiana da mulher negra a um público maior ao lançar ‘Sistema Feminino’, o excelente álbum de estreia do Melanina MCs, grupo de rap no qual é um dos pilares.

“Nós mulheres somos foda. Eu faço música pensando em nós, pensando em protestar coisas absurdas que acontecem no nosso dia a dia e ninguém dá atenção”, me disse a cantora na época. “Às vezes precisamos pegar pesado nas composições, quando uma mensagem tem que ser mais direta. Logo, mulheres me apoiam e alguns homens (não podemos generalizar, claro) se sentem ofendidos, tentam atacar de volta, dizem que somos revoltadas. Somos mesmo, ‘IDAI’? Somos a revolta, a revolução e o progresso. Vai me escutar”, afirma Mary Jane orgulhosa.

“Lusco-fusco: momento de transição entre o dia e a noite; crepúsculo vespertino; o anoitecer”.

Em ‘Lusco Fusco’, a rapper volta com três faixas produzidas por Léo Grijó no período de dezembro/2020 a janeiro/2021. Numa mistura rica de diversos ritmos, sensações e melodias, o EP se desenvolve em sucintos 7 minutos e meio e, mesmo envolto numa temática séria e dura, consegue se desenrolar com bastante fluidez ao trazer uma pegada envolvente, às vezes dançante e por vezes até sensual. Tudo isso graças a uma construção sonora precisa e composições que evidenciam uma cantora que sabe muito bem aonde quer chegar.

“Foi um trabalho desenvolvido com muito sentimento, em um momento que eu precisava falar de sentimento. Sentimento de ser mulher, forte, dona do seu corpo, dona sua vida e das suas regras. Aquele tipo de mulher mesmo que nós somos… foda”, comentou a cantora poucos dias antes do lançamento do EP. “Nasci no dia de Xangô, eu ando com essa força. Como pode ser tão delicada e forte ao mesmo tempo? Somos como as plantas, uma mistura do antídoto com o veneno”.

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Mary Jane (Crédito: Reprodução/Instagram).

Difícil listar apenas um destaque quando as opções são três faixas excelentes de uma artista que merece álbuns e mais álbuns em sua carreira. Se depender da Mary Jane, o rap capixaba vai muito bem, obrigado.

Se liga aí no tão esperado ‘Lusco Fusco’. Escute tudo:

Videoclipe

“Só quem teve comigo, família e amigo, vão brindar primeiro. Mais um dia abençoado terminando, é que eu durmo e acordo sonhando. Mesmo que eu não enriqueça esse ano, minha vitória é o sucesso dos mano”, canta a artista em “Atemporal”, faixa que encerra ‘Lusco Fusco’ e também a primeira a ganhar um videoclipe.

Dirigido por Diego Capeletti, o registro mostra a artista, amigos e família num dia de folga numa casa de praia, com direito a mar, piscina, bebidas, risadas e mais. Um clipe com uma atmosfera bem leve e envolvente e que ao final ainda faz uma homenagem a recentes perdas na vida da cantora.

Assista:

Texto: João Depoli | @joaodepoli.

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