Durante uma das lives mais legais que rolaram nessa pandemia, o capixaba Fepaschoal resolveu separar uma das canções que tocou para um lançamento especial nesta terça-feira (27). “A princípio, minha parceira Julia Galdino e eu produzimos essa live com o apoio da Lei Aldir Blanc pra transmitir e tchau, só que acabei gostando do resultado final”, me disse o músico sobre a ideia de disponibilizar seu registro da faixa “Rambo Quer Matar Che Guevara”, originalmente lançada pelo grupo Mukeka di Rato em seu icônico álbum de estreia ‘Pasqualin na Terra do Xupa-Kabra’ (1997).
“Eu já tocava [a faixa] em shows no início do meu projeto solo, [então] achei que valia fazer o registro”, avaliou o artista, que arrumou espaço até para uma levada de saxofone precisamente executada por Vitor Lima, seu saxofonista oficial desde o disco ‘CMDO Guatemala’ (2011). O resultado? “Um brega psicodélico muito louco”, como disse Fepas, que não só repaginou toda a canção, como preservou toda a sua urgência e significado.
“Essa noite o capeta vai encarnar em Che Guevara
Che somos nós, legião de explorados
Rambo, desgraçado, foi chamado e vai chegar
Vai tentar nos parar”
“Eu adoro a ironia e o poder de síntese dessa música pra tratar do imperialismo norte americano. Estamos aqui nessa situação atual muito por conta dessa política imperialista [e] isso me inspirou a fazer a releitura”, reflete o artista. “Claro, eu também quis homenagear a banda da qual sou fã desde moleque e ecoar uma canção do baita escritor/compositor que é o Sandro Juliati [vocalista das bandas Mukeka di Rato e Volapuque]. A música merecia uma versão mais lenta, que desse pra sacar a letra só escutando”, completa.
Curioso? Então se liga aí nessa versão e não deixe de ouvir a original:
Parcerias com Mozine, Merda e Mukeka di Rato
“Conheci o Mozine [Mukeka di Rato, Merda, Os Pedrero] na turnê coletiva do Omelete Marginal, em 2009”, lembra Fepaschoal sobre a excursão que juntou diversas bandas e artistas para shows em estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. “Nessa tour eu toquei “Rambo” com minha banda num primeiro show e ele entrou no quarto do albergue que estávamos hospedados gritando: ‘Cadê o tal do Fepaschoal?! Aí, maluco, vou te MATAR, maluco!’. Depois disso viramos brothers”.
Poucos anos depois dessa turnê, Mozine não só participou como lançou o primeiro disco de Fepas pela sua gravadora, a Läja Records, e também o convidou para participar daquele que seria o novo disco do Merda, ‘Indio Cocalero’ (2012). “Eu compus a música “Ayahuaska is Not LSD”, escrevi a letra de “Indio Cocalero” em parceria com a banda e participei das gravações — dando pitaco, somando voz e uns instrumentos de corda”, recorda o capixaba, que também emprestou sua voz para a música “Pagando o Pato”, oitava faixa do álbum ‘Atletas de Fristo’ (2011), do Mukeka di Rato.
Sessões Monazíticas
Voltando aos dias de hoje, Fepaschoal segue firme na divulgação de seu excelente novo EP, ‘Monazita’ (2020), tanto que no último dia 10 ele lançou o primeiro episódio das Sessões Monazíticas. Com direção de Julia Galdino e apoio da Lei Aldir Blanc, da Funcultura e da Prefeitura de Vitória, a transmissão teve quase 45 minutos de duração e contou com participações de Marcela Mattos (locução), Yuri Guijansque (flauta em “Pau na Preá”) e Gessé Paixão (trompete em “Adão”), assim como Vitor Lima no sax de “Rambo”.
Gravado à distância e exibido numa atmosfera bem autêntica e psicodélica, este primeiro episódio foi pautado na performance das músicas “Pau Na Preá”, “Maria Ortiz”, “Chama Maré”, “Monazitas”, “Adão”, “Milico”, “Exu Fofura”, “Mago” e “Debaixo das Pernas do Mar – Chila” — além, é claro, de “Rambo Quer Matar Che Guevara”.
Para o segundo episódio, que sairá apenas no segundo semestre, a ideia do artista é poder juntar sua banda para uma gravação ao vivo. “Torcendo pra pandemia, ao menos, dar uma arrefecida para eu sentir mais segurança pra poder retomar os ensaios com minha turma”, torce Fepas.
Enquanto esse novo vídeo não chega, se liga em como foi o primeiro episódio das Sessões Monazíticas:
Texto: João Depoli | @joaodepoli.