Lua MacLaine é uma cantora e compositora que no ano passado deu início à sua carreira solo autoral com o lançamento de um delicado e elegante EP de estreia. Produzido por Jackson Pinheiro (Silva, André Prando, Supercombo), Conversa de um Só conta com quatro faixas bem íntimas e reflexivas que funcionam muito bem tanto em conjunto quanto separadamente. Como a crítica local tem dito, “é um cartão de visitas de charme e consistência inegáveis”.
Confira abaixo a íntegra da conversa que tivemos e não deixe de ler sua participação ao lado de Gustavo Macacko, 6ok (Solveris), Vinicius Hoffmam (Zé Maholics), Gil Mello (Mudo) e Davi Cirino (Skydiving From Hell) no quinto episódio da série Quarentalks.
João Depoli: Nós brasileiros acompanhamos com relativa antecedência a evolução dessa pandemia ao redor do mundo. Ainda assim, o ato de entrar em quarentena provou-se ser algo mais fácil de ser compreendido na teoria do que na prática. Você acredita que estava preparada para isso?
Lua MacLaine: Acredito que nenhum de nós estávamos preparados para tamanho acontecimento global. Eu não estava preparada, assim como acredito que nenhum de nós. Antes eram apenas notícias de países distantes ao nosso, mas procurei ler a respeito antes da proporção da pandemia que estamos passando hoje. Meu primeiro pensamento foi saber que haveria tanta gente perdendo a vida, que não seguiam regras de isolamento e distanciamento social, e o que vemos hoje é caos e vidas se esvaindo.
Como você tem lidado com o fato de que parte de suas atividades, planos e até mesmo fontes de renda foram reduzidas, adiadas ou até mesmo extintas?
É um sentimento de falha. Lancei o meu primeiro EP em novembro e pretendia começar a tocar em abril. Infelizmente, esse é um ano de perdas e espero profundamente que o ano de 2021 volte à normalidade e que possamos voltar às nossas atividades.
Desde que entramos nessa, vimos que o isolamento teve diversos reflexos nas pessoas. Enquanto uns não notaram muita diferença em seu cotidiano, alguns viram seus problemas com depressão sendo amplificados, outros passaram por crises de ansiedade e mais. Como tem sido a sua adaptação a esse período?
Eu sofro de ansiedade há muito tempo. O fato de ficar em casa era algo comum pra mim, mas com a dificuldade de tráfego por áreas de lazer, nos vemos presos em nossa própria mente. Faço terapia online e em alguns casos vejo que também dificulta o fato de você não poder fazer algo externo para aliviar a tensão. Eu tento fugir pintando quadros, desenhado, compondo, estudando músicas que eu acho difíceis, respondo quiz… inúmeras atividades para aliviar o tédio e a tensão.
“Parece que muitos não aprendem com os erros e infelizmente acabam atrapalhando o desenvolvimento positivo de outros”.
Enquanto alguns defendem que o isolamento deve ser absoluto, outros o enxergam como um exagero e toda essa discussão parece apenas amplificar esse período de extrema divisão social que já vivemos. Nesse contexto, o que você acha que esse momento significa para nós como sociedade?
Sou a favor do isolamento social e distanciamento. O importante é nos unir e nos ajudar. Precisamos ir ao mercado, farmácias, pagar contas, mas sem aglomeração e respeitando as regras do Ministério da Saúde.
Acha que é possível tirarmos algo positivo de um período como esse?
Eu gostaria de acreditar que sim, mas somos falhos. Erramos e parece que muitos não aprendem com os erros e infelizmente acabam atrapalhando o desenvolvimento positivo de outros.
Num foco mais pessoal, o que você descobriu sobre si mesma ou aprendeu nesse período de introspecção?
Até o momento não percebi mudança, mas pude fazer coisas que gostava e que ficava parado por não ter um tempo só meu. Apesar de quarentena ter mais pessoas em casa em alguns casos, eu foquei em atividades que eu já praticava para aperfeiçoar.
“Espero contribuir levando amor a todos que escutam as minhas músicas”.
Quando se trata de compor ou trabalhar num projeto criativo, muitas pessoas naturalmente buscam um certo isolamento. Esse período tem sido favorável para você nesse sentido?
Acho que compor na quarentena está sendo complicado para mim, pois tem mais gente em casa, fazendo diversas coisas diferentes, falando o tempo todo, o que dificulta criar algo, mas não é impossível. Eu tenho focado mais na pintura e desenho nesse momento.
Como você espera que o seu trabalho possa contribuir tanto no período durante quanto no pós-quarentena?
Esse momento é o de descobrir coisas novas, músicas novas. Muita gente não me conhece ainda. Espero contribuir levando amor a todos que escutam as minhas músicas. O EP pode ser encontrado nas plataformas digitais, escutem juntinhos ou sozinhos, a música não tem barreiras.
Por fim, muito se especula sobre como será o convívio social num período pós-quarentena e os seus impactos em toda a cadeia musical. Quais são as suas expectativas para esse novo capítulo?
Espero que seja muito gratificante, tanto no meio musical quanto no meio da arte — que são coisas que eu amo fazer. Que a vida volte ao normal, sabendo que possa demorar um pouco, acredito que tudo possa se normalizar.
Texto: João Depoli | @joaodepoli.
