Nano Vianna (Cinco Nós): “A nossa ignorância vai matar muito mais que o Covid.”

Leia na íntegra o papo que tive com Nano Vianna sobre esse período de quarentena e os seus desdobramentos atuais e futuros
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Nano Vianna (Crédito: Holly Jeveaux).
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O cantor e compositor Nano Vianna é o frontman do Cinco Nós, grupo de pop rock fundado na capital capixaba ainda em 2003. Além de possuir vários prêmios na bagagem, como do Oi Vitória Music Festival (2004) e do Festival Fun Music (2013), a banda também conta com dois álbuns de estúdio: o debut MUSIQUALIDADE (2010) e o recente Cria (2019). Como artista solo, Vianna tem um disco lançado, Desatado (2014), e acaba de disponibilizar o single “AcAlma”, cujo lançamento oficial ocorre neste sábado (8), na Faculdade Estácio de Sá, em Vitória, durante o primeiro show ao vivo no formato drive-in do estado.

Confira abaixo a íntegra da conversa que tivemos e saiba quais são suas reflexões sobre esses últimos meses de pandemia. Aproveite também para ler as entrevistas com outros artistas capixabas que participaram da série Quarentalks clicando aqui.

João Depoli: Nós brasileiros acompanhamos com relativa antecedência a evolução dessa pandemia ao redor do mundo. Ainda assim, o ato de entrar em quarentena provou-se ser algo mais fácil de ser compreendido na teoria do que na prática. Você acredita que estava preparado para isso?

Nano Vianna: Eu acredito que nós (mundo) não estávamos preparados pra isso. Perda da liberdade, de afeto presencial, de trabalho. Eu me sinto impotente perante isso, pois é muito maior do que qualquer outra situação dentro da minha realidade. Mas procuro fazer o possível com o que tenho em mãos e acredito que a arte salva todos nós nesses momentos, pelo menos no âmbito mental.

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Como você tem lidado com o fato de que parte de suas atividades, planos e até mesmo fontes de renda foram reduzidas, adiadas ou até mesmo extintas?

As lives têm sido uma ótima saída pra manter alguma renda. Isso aliado aos parceiros, que em troca de divulgação oferecem seus produtos e ajudam a dar um boost na arrecadação.

Desde que entramos nessa, vimos que o isolamento teve diversos reflexos nas pessoas. Enquanto uns não notaram muita diferença em seu cotidiano, alguns viram seus problemas com depressão sendo amplificados, outros passaram por crises de ansiedade e mais. Como tem sido a sua adaptação a esse período?

Eu faço tratamento de síndrome do pânico e nessas horas a família é muito importante. Acredito que ela, junto ao meu trabalho nas lives, apoio dos fãs e amigos, tem sido a força motriz que me alimenta e me dá forças pra continuar.

“O brasileiro como sociedade falhou em muitos setores”.

Enquanto alguns defendem que o isolamento deve ser absoluto, outros o enxergam como um exagero e toda essa discussão parece apenas amplificar esse período de extrema divisão social que já vivemos. Nesse contexto, o que você acha que esse momento significa para nós como sociedade?

Acredito que todos nós estejamos numa grande “gray area”. Não acredito em teorias da conspiração até que sejam provadas. Infelizmente, vemos muitos “cientistas” e “economistas” de Facebook apontando pra soluções que vão contra o que está sendo apontado no mundo. Isso como sociedade pra nós, brasileiros, é muito ruim. A falta de investimento em educação, saneamento e cultura está sendo vista com mais abrangência agora. Acredito que o brasileiro como sociedade falhou em muitos setores. E, sim, a nossa ignorância vai matar muito mais que o Covid. Mas tenho fé que o bom senso ainda virá a ser a nossa bandeira.

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Nano Vianna ao vivo (Crédito: Kell Maia).

Acha que é possível tirarmos algo positivo de um período como esse?

Sim. Evolução. Pra voltarmos ao “novo normal”, como diz meu amigo Douglas Lopes. Temos a oportunidade de olharmos pra dentro e voltarmos melhores. Nos inteirar dos assuntos que achávamos ser os donos da verdade e realmente estudá-los e reaprendermos os valores familiares, ou seja, temos a oportunidade de nos encontrarmos de novo.

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Num foco mais pessoal, o que você descobriu sobre si mesmo ou aprendeu nesse período de introspecção?

Sim. Minha percepção sobre o todo. As opiniões das pessoas nos grupos que faço parte, as conversas com a família, como meus amigos estão tendo que se reinventar. Isso tudo molda a minha forma de ver a mim mesmo e no que eu posso melhorar.

“Tenho composto muitas canções e muitas delas com temáticas as quais eu não estava acostumado escrever”.

Quando se trata de compor ou trabalhar num projeto criativo, muitas pessoas naturalmente buscam um certo isolamento. Esse período tem sido favorável para você nesse sentido?

Sim. Eu particularmente preciso de um ambiente tranquilo pra que eu foque na minha produção. Tenho composto muitas canções e muitas delas com temáticas as quais eu não estava acostumado escrever. Gostei muito disso e já tenho material pra uns 2 ou 3 novos álbuns.

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Nano Vianna ao vivo (Crédito: Holly Jeveaux).

+ Leia também: “Escute esse disco”, por Nano Vianna (Cinco Nós).

Como você espera que o seu trabalho possa contribuir tanto no período durante quanto no pós-quarentena?

Eu gosto de retribuir o carinho que as pessoas têm com o meu trabalho. A minha contribuição é passar esse mesmo carinho como um abraço apertado, um alento, pra que nós, mesmo separados fisicamente, estejamos juntos na arte. Eu espero que meu trabalho possa passar isso a elas. Se eu conseguir por algum momento, mesmo que breve, fazer com que elas se conectem com algo que as traga amor e felicidade, é uma grande vitória pra mim.

Por fim, muito se especula sobre como será o convívio social num período pós-quarentena e os seus impactos em toda a cadeia musical. Quais são as suas expectativas para esse novo capítulo?

A reinvenção do nosso mercado será fundamental para isso. É uma grande cadeia produtiva que é afetada. A indústria do entretenimento gera bilhões por ano e o impacto disso é dantesco. Acredito que a volta aos shows presenciais será gradativa, mas em marcha bem lenta. Porém, vejo que os shows, por exemplo, serão bem mais valorizados culturalmente, principalmente os de música autoral, pela conectividade que os artistas têm feio através de suas lives mostrando suas produções. Então vejo, sim, várias luzes, no fim do túnel.

Texto: João Depoli | @joaodepoli.

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