Claudio Neto (Mystery): “O momento é propício para extravasar em forma de arte.”

Leia na íntegra o papo que tive com Claudio Neto sobre esse período de quarentena e os seus desdobramentos atuais e futuros
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Claudio Neto nos vocais da Mystery (Crédito: Reprodução/YouTube).
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Claudio Neto é o vocalista e baixista da veterana Mystery, banda de death metal que divide com Tante Mathielo (guitarra), Fabio Mauro (guitarra) e Danúbio Amorim (bateria). Formada em Vitória no ano de 1991, o quarteto lançou seu primeiro álbum, Creation Corrupted, ainda em 2017 e agora se vê num processo de gravação de um novo EP.

Confira abaixo a íntegra da conversa que tivemos e saiba quais são suas reflexões sobre esses últimos meses de pandemia. Aproveite também para ler as entrevistas com outros artistas capixabas que participaram da série Quarentalks.

João Depoli: Nós brasileiros acompanhamos com relativa antecedência a evolução dessa pandemia ao redor do mundo. Ainda assim, o ato de entrar em quarentena provou-se ser algo mais fácil de ser compreendido na teoria do que na prática. Você acredita que estava preparado para isso?

Claudio Neto: Na verdade é difícil estar preparado para essa situação, mesmo tendo visto como essa pandemia vinha acontecendo pelo mundo. As coisas foram acontecendo muito rápido e as pessoas tiveram e ainda tem que continuar se adaptando a essa nova realidade. O mundo está paralisado, estamos vivendo para tentar sobreviver, mas temos que encontrar alternativas para seguir em frente.

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Como você tem lidado com o fato de que parte de suas atividades, planos e até mesmo fontes de renda foram reduzidas, adiadas ou até mesmo extintas?

Não tem muito o que fazer, a não ser minimizar os prejuízos que todos estão tendo. O Mystery, por exemplo, estava em processo de gravação de um EP. Baterias e guitarras já gravadas de duas músicas inéditas (“Evil Inside” e “Hate and Intolerance”), mas tivemos que interromper o processo. Cancelamos tudo: inicialmente os shows e depois ensaios e gravações. Mas esperamos que esse momento passe para retomarmos com toda força!

Desde que entramos nessa, vimos que o isolamento teve diversos reflexos nas pessoas. Enquanto uns não notaram muita diferença em seu cotidiano, alguns viram seus problemas com depressão sendo amplificados, outros passaram por crises de ansiedade e mais. Como tem sido a sua adaptação a esse período?

É complicado. Para quem realmente está levando a sério a questão do isolamento social, há de se ter muito desapego e equilíbrio, e se ocupar de outros afazeres também, ouvir música, ver filmes, ler um livro, porque senão você pira mesmo.

“Essa galera negacionista eu prefiro apenas ignorar”.

Enquanto alguns defendem que o isolamento deve ser absoluto, outros o enxergam como um exagero e toda essa discussão parece apenas amplificar esse período de extrema divisão social que já vivemos. Nesse contexto, o que você acha que esse momento significa para nós como sociedade?

Em relação à pandemia creio que não deveria haver discussão, pois se só existe um jeito de combater essa doença, então a questão do isolamento não deveria nem estar em pauta, e simplesmente cumpri-la. Mas essa galera negacionista eu prefiro apenas ignorar.

Acha que é possível tirarmos algo positivo de um período como esse?

Positivo acho difícil, mas é um novo aprendizado. Nosso convívio social será totalmente repensado. Quem sabe não seja uma oportunidade para as pessoas, e principalmente para os governantes, refletirem sobre suas posições e seus atos.

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Num foco mais pessoal, o que você descobriu sobre si mesmo ou aprendeu nesse período de introspecção?

É um exercício de paciência contínuo. Você tem que aprender a conviver com limitação de espaço e de tempo livre.

“Nosso convívio social será totalmente repensado”.

Quando se trata de compor ou trabalhar num projeto criativo, muitas pessoas naturalmente buscam um certo isolamento. Esse período tem sido favorável para você nesse sentido?

Na verdade esse é um isolamento forçado, e não aquele que você busca para compor ou escrever algo num momento de inspiração. É diferente, mas dá pra aproveitar sim e eu já fiz algumas letras. Aliás, o momento é propício para extravasar em forma de arte.

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Claudio Neto (dir.) e a banda Mystery (Crédito: Divulgação/Facebook).

Como você espera que o seu trabalho possa contribuir tanto no período durante quanto no pós-quarentena?

As músicas que eu ouço e que eu toco são impactantes, extremas, para grande parte das pessoas, mas de certa forma, pelo menos pra mim, são fontes de energia. Talvez o death/thrash metal, em relação à sonoridade, tenha esse poder sobre os demais também.

Por fim, muito se especula sobre como será o convívio social num período pós-quarentena e os seus impactos em toda a cadeia musical. Quais são as suas expectativas para esse novo capítulo?

Como disse antes, estamos ainda no meio do processo. Difícil prever. Mas com certeza muita coisa vai mudar. A tendência é que o online tome conta cada vez mais dos meios de produção e distribuição musical. Se antes já era tendência, agora vai quase que virar uma regra.

Texto: João Depoli | @joaodepoli.

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