Se você frequenta os bares e pubs da Grande Vitória, é bem provável que você já tenha se deparado com Luiz Magnago em alguma noite. Ele certamente estava lá em cima, no palco, com seu violão e um imensurável repertório indie ou talvez como o baixista de uma de suas inúmeras bandas — Merci, Quintal Selvagem e Blackslug, só para nomear algumas.
Desta vez, Magnago trouxe seu pocket show ao Liverpub Vitória numa noite (27/11) em que a banda Whatever Happened to Baby Jane era a protagonista. As meninas estavam gravando o videoclipe da música “Teresa” e a abertura do show ficou por conta de Luiz, que tocou alguns clássicos, como “Karma Police” do Radiohead, “Make It Wit Chu” do Queens of the Stone Age, “Lovesong” do The Cure e outros. Seu set também contou com a participação de João Lucas Ribeiro (The Muddy Brothers), tocando Neil Young, e Rafael Sodré, que dividiu o palco com Luiz para juntos tocarem “Interstate Love Song” do Stone Temple Pilots.
Logo após o seu show, nós batemos uma rápida conversa com o músico. Durante o papo, ele falou de suas origens no violão, seu desejo de iniciar a própria banda, seus projetos atuais e a expectativa de tocar no festival Rock a Rock com duas bandas. Confira!
Embora você essencialmente seja um baixista, de uns tempos pra cá você começou a fazer esses pocket shows (voz e violão) pela cidade. De onde veio a motivação para fazer isso?
Eu comecei tocando violão, […] mas o meu instrumento principal acabou sendo o baixo [porque], logo depois de começar a tocar violão, eu já comprei um baixo e fui entrando em bandas tocando baixo. Mas eu sempre tive contato com violão, guitarra e tudo. […] Em casa eu sempre toquei […] várias músicas que me agradam bastante e chegou uma hora que eu — modéstia à parte — achei que estava executando bem esses covers e falei “porra, eu quero sair de casa um pouco para tocar isso”, sacou? Quero me divertir, aprimorar meu vocal, porque é um jeito de eu me forçar a cantar também, entendeu? Conseguir ficar ali duas horas cantando é uma parada que me força a exercitar o canto. Então foi meio que essa vontade de tocar os covers que eu já tocava em casa e a vontade de evoluir como vocalista, porque eu quero ser vocalista uma hora também.
Você também é conhecido por ser “o cara de todas as bandas”, só que é interessante dar uma olhada na sonoridade das músicas que você toca com as suas bandas e a sonoridade daquilo que você toca sozinho. Dá para ver que por vezes são até mundos diferentes, de certa forma. Seria isso uma forma de compensar o que você não consegue com as suas bandas?
As músicas que eu escolho para fazer na voz e violão são músicas bem intimistas mesmo — bem pessoais. Músicas que eu gosto da letra e que eu gosto do clima. Normalmente são músicas tristes. Eu gosto de clima mais down nas músicas e tudo, entendeu? E, assim, eu nem sei dizer na verdade se é esse o clima que eu quero botar nas minhas composições quando eu for fazer não. Talvez as intenções das letras sim, mas os grooves serem mais baixo astral, talvez não necessariamente. Acho que vai ser uma coisa meio mesclada. E provavelmente sim, tem a ver com eu não tocar isso em outras bandas e tudo. E quando você desenvolve músicas com outras pessoas, você tem que ceder muito e aí uma das coisas que eu gosto da voz e violão é que eu não tenho que ceder nada para ninguém. Eu escolho as coisas e, se eu errar, se eu fizer quatro vezes uma parte que eu tenho que fazer duas vezes, não vai dar em nada. Ninguém sofre com isso e eu estou ali me divertindo pra caralho.
A ideia de iniciar um projeto nesta vertente é fazer um “Luiz solo” ou uma banda que o tenha como vocalista?
Eu já pensei… eu estou formatando isso. Provavelmente no ano que vem ou talvez em 2019 eu vou ter isso mais bem formatado. Mas o que mais está me chamando atenção é ser uma banda minha [com] um nome de banda. Talvez eu não carregar o nome “Luiz Magnago” para esse projeto e carregar o nome de uma banda.
Seria uma forma de se livrar da pressão de ter tudo sobre você ou é um senso de time?
É mais por conta do nome mesmo. Eu acho legal ter um nome, sei lá. Vamos dizer, o Nine Inch Nails é mais ou menos isso: o Trent [Reznor] toca aquele negócio ali e beleza, ele convida… ele tem músicos que já estão com ele há um bom tempo… Praticamente é uma banda, mas também na verdade é ele quem conduz a parada. Então, eu acho que pode ser uma mescla. Eu tenho vários músicos amigos, parceiros, e que provavelmente já vão ser eles que vão participar e vão ser minha banda de apoio ou talvez até a banda oficial mesmo. Não tenho certeza se vai ser uma parada tipo o Nine Inch Nails ou se vai ser uma parada que todo mundo vai contribuir ou se isso vai evoluir com o tempo. Talvez eu comece fazendo sozinho. Levanto o projeto, convido a galera e aí num segundo momento todo mundo participa.
E nessa banda você vai ser o vocalista e o baixista, estilo Paul McCartney, ou você vai ficar no violão?
Não! Eu vou fazer guitarra ou violão. […] É fato que, pra mim, tocar baixo e cantar é infernal! Eu nem me divirto fazendo isso, na real. […] As divisões de tempo ali… eu gosto de ficar usando muita pausa no baixo. Usar alguns tempos que não necessariamente são tempos muito complicados… mas eu gosto de ficar achando divisões de tempo interessantes, entendeu? Aí, se eu faço isso e canto, eu não me divirto não.
Você não pode se sabotar na sua própria banda.
Não rola. E eu já faço tanta coisa, que eu não quero desprender tempo para aprender a fazer isso. Acho que não precisa.
O legal é multiplicar, né? Você já tem vários projetos. Você não precisa levar tudo para um lado só. Então, como isso ainda é o futuro e a situação está um pouco incerta, vamos falar do presente. Você está com duas bandas que estão para fazer shows em breve. O Blackslug está com uma agenda boa agora para dezembro e vai inclusive tocar no festival Rock a Rock [que acontecerá no dia 09/12 no Pavilhão de Carapina] junto do Quintal Selvagem, que ontem lançou um single, “Lonely”. Como está a vibe dessa banda? Vai lançar mais coisas ou isso foi apenas um spin-off?
O Quintal Selvagem tem sido uma banda muito prática. A gente começou levantando alguns covers para poder tocar — covers um pouco mais atuais. A gente costuma dizer que é da década de 90 pra frente. A gente, pô, levanta uns covers que a gente acha divertido de tocar, toca e sempre resolve as coisas muito rápido. E num dado momento, […] o Amaro [vocais e guitarra] chegou com uma música que ele tinha estruturado um verso, um refrão… ele tinha feito uma base da música. E ele falou, “galera, tem uma música aqui, vamos fazer? Vamos experimentar?” E aí, “vamos!” Aí a gente levantou a música […] e em dois ensaios ela estava praticamente pronta e a gente já se lançou para gravar. Assim que gravou a música, a gente já gravou um videoclipe também, que já está para sair. […] A gente tem feito as coisas de uma maneira muito prática. A gente não planejou direito o que ia fazer. Foi acontecendo, foi pintando e a gente foi fazendo. E está sendo divertido. Uma experiência legal de ter objetividade com […] os materiais que são gerados com a banda.
E a expectativa para esse festival? “O maior festival do Espírito Santo” e você com duas bandas nele.
Eu acho que vai ser bem legal. São duas bandas bem diferentes. O Blackslug já é bem determinado, porque foca no autoral, né? Nasceu como uma banda autoral e é um som completamente diferente: um stoner rock, um negócio um pouco mais agressivo e tudo. E o Quintal é essa onda que eu te falei, a gente focou de fazer um som mais atual, um pouco mais rock contemporâneo e um negócio muito prático e divertido também. Vai ser legal defender as duas causas ali.
Vai aguentar a pressão?
Ah, pra caralho. Mas estou acostumado, né? Estou tocando direto. Já estou acostumado a duas gigs num dia. Dá para ir de boa.
Texto: João Depoli.