Vamos logo tirar isso do caminho: 2020 foi uma merda. Um ano terrível para uma infinidade de esferas, dentre elas a música. Turnês canceladas, sessões de gravação interrompidas, casas de show falindo, estúdios fechados, equipes de apoio desempregadas, fontes de renda secando, integrantes de bandas que nunca mais puderam se ver. Tudo isso e mais. Foi como um tiro à queima roupa na desamparada e efervescente cultura capixaba.
No entanto, ele também foi um ano em que muita gente pôde se reinventar, traçar novos planos, ponderar expectativas e até mesmo encontrar novos rumos. Foi um período em que algumas pessoas conseguiram passar por cima de todas essas adversidades e fazer o que fazem de melhor: transformar toda a angústia, frustração, sonho, desejo e experiência em música.
Naturalmente, a maior parte da produção musical se concentrou no lançamento de músicas soltas, isto é, os singles. Em comparação aos anos anteriores, foram poucos os álbuns e EPs que de fato saíram. Afinal, quem seria louco o bastante para lançar um disco numa pandemia?! E é por isso mesmo que hoje focamos nessa galera que se dispôs a seguir nessa insana missão de soltar um conjunto de músicas de uma só vez.
Por ordem de lançamento, a seguir estão os 27 melhores discos capixabas que saíram em pleno 2020, de janeiro a dezembro. Álbuns e EPs que vão do rap ao folk, da MPB ao metal e da podreira ao luxo. Música para todos os gostos. Sorria ao se deparar com um artista que gosta, faça cara de nojo ao ver aquela banda que odeia e surpreenda-se com trabalhos que você nem sabia que existiam e que agora não saem mais dos seus ouvidos.
1. Vk Mac, ‘Spacedrift’
Se teve alguém que se preocupou com produção musical em 2020 foi o Vk Mac. Dentre singles e diversas parcerias, o rapper fez mais de 30 lançamentos no ano, tendo disponibilizado músicas novas todos os meses. Ele foi disparado o artista capixaba mais ocupado do ano. E para começar tudo isso, Vk soltou logo em janeiro seu primeiro álbum cheio, ‘Spacedrift’. Dando continuidade à maré de singles que ele colocou no ar desde sua estreia com o EP ‘Antes do Outono Chegar’ (2018), o disco veio com 9 faixas e participações de Dudu MC e Dnasty (Angola). Recomendamos “Bad Vibe” e “Me Liga Quando Chegar”.
2. Juliano Gauche, ‘Bombyx Mori’
Melodias delicadas e vocais melancólicos passeando sobre um pasto chuvoso e predominantemente acústico. Este é o cenário que Juliano Gauche traçou em ‘Bombyx Mori’, seu trabalho mais recente. “Eu estava dando uma respirada nesse último ano. Contando com meu trabalho no Solana, posso dizer que gravei sete discos, um atrás do outro”, nos contou o músico de Ecoporanga. Disponibilizado em fevereiro — dois anos após ‘Afastamento’, seu terceiro disco solo —, o EP da vez carrega elementos existencialistas e também da literatura espírita na qual o músico esteve imerso nos últimos anos. Seu próprio título faz menção a uma passagem espírita que fala da “capacidade que nossa natureza tem de se transformar completamente”. Como aponta o próprio Gauche, “a tal fase de transição”. Não seja preguiçoso e escute o EP todo, mas se precisar escolher uma, fique com a segunda faixa, “Bombyx Mori No. 2”.
3. Bella Mattar, ‘Do Quarto Pra Rua (Acústico)’
“Foi um período de crescimento muito grande pra mim, não só artístico, mas pessoal também”, disse a cantora capixaba Bella Mattar sobre ‘Do Quarto Pra Rua’, seu EP de estreia. Embora ele tenha sido originalmente lançado em 2019, seu impacto foi tão importante na trajetória de Mattar que em fevereiro de 2020 ela o revisitou num novo formato acústico. São 4 canções bem arranjadas, com melodias gostosas, letras muito bem estruturadas e uma ótima entrega. Funciona até melhor que as versões originais. Recomendamos todas as faixas, principalmente a última, “Olhos de Vidro”.
4. Bongrado, ‘Por Esta Estrada’
Dois anos após disponibilizar seu último trabalho, quem marcou presença em 2020 foi Bongrado, o projeto solo de um homem-só do músico e produtor Guilherme Cysne. Lançado ao final de fevereiro, ‘Por Esta Estrada’ mantêm a estética focada no indie e no pop rock nacional característico de seus predecessores, os EPs ‘Tempo ao Temporal’ (2018) e ‘Nômade’ (2016). A diferença é que dessa vez Cysne resolveu acrescentar alguns elementos eletrônicos para criar uma atmosfera mais futurística às canções, apoiando-se em sintetizadores e beats — tudo isso sem aqueles excessos oitentistas absurdos que destroem qualquer coisa. Escute tudo, mas preste atenção em “Guardião do Fim”.
5. Conteúdo Paralelo, ‘Voo’
“Senhoras e senhores, bem-vindos ao voo número 2020, partindo do aeroporto interestelar de Vitória com destino ao multiverso de infinitas possibilidades”. É assim, ao som da voz de uma aeromoça, que o trio de rap Conteúdo Paralelo abre seu novo álbum, ‘Voo’. Lançado em março, ele é formado por 14 faixas, além das divertidas e bem boladas “Decolagem” e “Pouso” — as vinhetas de abertura e encerramento do disco. Durante esse voo, os vocalistas Fredone e Renato Ren despejam diversas metáforas distopicamente cotidianas em meio a rimas que fluem sem qualquer esforço pelos beats de L.Brau. Além do conteúdo lírico ser excepcional, ambas as vozes se complementam muito bem em meio aos samples e toda a sonoridade hip hop lo-fi clássica do disco. “Esperamos revê-los em breve. Agradecemos a preferência em voar com Conteúdo Paralelo. Obrigada e tenham um bom dia”, agradece a aeromoça ao final do disco. Escutem “Caleidoscópio”, “Pensamento Nublado”, “O Caos Que Tento Controlar” e “Pronto Nevrálgico”.
6. Colt Cobra, ‘Colt Cobra’
Colt Cobra nunca decepciona! Esse trio canela-verde fez sua estreia em 2017 com o incrível ‘Raw Trash Blues’, mas desde então parece ter dado uma freada em suas aparições. Tudo isso só pra voltar no final de março de 2020 com uma porrada de um self-titled. Enquanto estávamos engatinhando nos conceitos de isolamento e Covid-19 (se é que já saímos dessa fase), eles soltaram um álbum com 10 inéditas que somam pouco mais de 20 minutos. Fuzz, tremolo, blues, surf, sujeira e todos os melhores ingredientes pra se chegar num poderoso entorpecente sonoro. Escute várias vezes, principalmente a faixa “Fuck The Corporate World”.
7. André Prando, ‘Calmas Canções do Apocalipse’
“Gravei aqui em casa mesmo e eu nem tenho home studio”, nos disse o músico André Prando ainda em maio, pouco depois do lançamento de ‘Calmas Canções do Apocalipse’, um trabalho completamente fincado nos desafios e sutilezas de se produzir totalmente em casa quando se vive isolado durante uma pandemia global. “É um EP que reflete o que a gente está vivendo, não só em relação à pandemia, mas dos últimos anos e dos dramas que a gente tem vivido. Reflexão utópica e distópica sobre os próximos momentos também”. Das 3 canções que o compõem, a melhor é “Dharma”, uma composição que André fez com o artista mineiro Luiz Gabriel Lopes. Mas escute todas. Vale a pena.
8. RealVettorazzi, ‘La Plata’
“Eu faço dinheiro enquanto tô dormindo, seu Gucci falso não engana ninguém. Não curto dourado, gosto de la plata. Não fala comigo. Mano, cê é quem? Foda-se o que acha”, dispara RealVettorazzi na faixa que abre seu EP ‘La Plata’. Lançado em maio, ele marca a estreia de uma das mais promissoras apostas do CAIXA2, selo capixaba voltado ao hip hop, rap e trap. No disco, Vettorazzi não perde o fôlego por um segundo em meio às rimas incisivas e rápida entrega de suas 4 faixas. Nosso destaque vai pra música título, que, com todo o gravão que tem, daria uma ótima abertura de show.
9. Gastação Infinita, ‘Ao Vivo no Peixes de Aquário’
Gastação Infinita? Como não gostar de uma banda com um nome desses? Vinda de Cariacica, ela surgiu daquelas incansáveis e indulgentes jams que todo músico adora. Não satisfeita com apenas uma vertente bem definida do rock, preferiu construir canções que transitam por vários portos culturais da música brasileira em meio a elementos do rock psicodélico. O interessante é que tudo isso soa melodicamente coeso. Tanto que em junho o quinteto lançou ‘Ao Vivo no Peixes de Aquário’, um EP com 5 faixas de toda essa desconstrução bem delineada. Recomendamos “Infinito Azul”.
10. Magro, ‘Mais Um Rapaz Comum’
Famoso por seu trabalho no grupo Solveris, o rapper Magro não deixou a pandemia atrapalhar a produtividade de sua carreira solo. Dentre colaborações e singles, ele aproveitou o momento para contar sua história no EP ‘Mais Um Rapaz Comum’. Disponibilizado em julho, o registro é bem rapidinho, são apenas 3 músicas, mas isso não diminui em nada sua pertinência. Sobre a faixa de abertura, “Guerreiro de Fé”, Magro nos disse que a compôs quando descobriu que seu pai estava com Covid-19: “logo depois da gente conversar via FaceTime com ele já no respirador. Eu precisava expurgar o que tava guardado dentro de mim”, disse. Já em “Tô Buscando o Que é Meu”, ele conta que a fez “de freestyle, no dia da minha mudança [para Cristóvão Colombo, em Vila Velha]. Gravei no celular mesmo. Eu precisava compor sobre esse novo ciclo”. Por fim, em “Tudo Quente”, o rapper cai em risos para confessar sua temática. “Eu tinha acabado de ter o primeiro desentendimento com a minha namorada. Foi uma coisa muito boba, mas eu precisava falar sobre isso”. Sim, escute todas as três.
11. Axânt, ‘Mundo Negro’
“A música tem um papel muito importante de orientação, informação e opinião, além de ser um forte pilar cultural. Espero que meu trabalho possa alcançar, informar e fortalecer de alguma forma quem ouve”, nos confidenciou o rapper Axânt quando falávamos sobre o seu trabalho diante do período da pandemia. Desde então ele não parou de lançar novas músicas, sendo que em julho ele soltou seu EP de estreia, ‘Mundo Negro’. São cinco faixas repletas de rimas e críticas sociais entregues de maneira enfática e num flow autêntico e poderoso. A melhor é “Pecados e Tentações”, a faixa de abertura do disco. Um tapa na cara de todo mundo.
12. Dead Fish, ‘Lado Bets’
Devido à pandemia, o Dead Fish infelizmente se viu forçado a frear a turnê do nervoso ‘Ponto Cego’ (2019) naquele que seria um dos mais apropriados momentos para se estar no maior grupo de hardcore do país. Durante essa pausa, Rodrigo Lima e companhia (que completam 30 anos de banda agora em 2021) aproveitaram para revisitar gravações antigas para talvez lançar algo durante o período de quarentena. Acontece que os caras se depararam com uma caixa de Pandora cheia de raridades, sobras de estúdio, faixas escondidas, diferentes versões de coisas já lançadas e diversos outros sons que nunca viram a luz do dia. Quando eles se decidiram em 10 músicas gravadas entre 2004 e 2019, o que seria um EP virou um álbum, ‘Lado Bets’, lançado ainda em julho. Apesar de “Maniac Nonlinear” e “Sem Remédio” serem ótimas, por questões afetivas o destaque vai para “A Recompensa”, antiga faixa bônus pra quem havia comprado o CD ‘Um Homem Só’ (2006).
13. Arame, ‘Genocidal 2020 A. D.’
Dependendo do seu gosto musical, ‘Genocidal 2020 A. D.’ pode muito bem ser o melhor ou pior disco do ano. Lançado em agosto, o EP marca a estreia do grupo Arame. É um trabalho extremante urgente, visceral e descompromissado pautado no crust e no hardcore. Como uma surra bem dada, ele dura pouco mais de 5 minutos, além de eternizar o encontro musical de Fabio Mozine (Mukeka di Rato, Merda, Os Pedrero), Lorena Bonna (Roberta de Razão, Whatever Happened to Baby Jane), Igor Pellegrini (Los Muertos Vivientes), Gustavo Barbosa (Ass Flavour) e Emiliano (ROT). Nosso destaque fica com a destruidora faixa de abertura, “Latin American Slave”.
14. The Solitaryman Monoband, ‘Hipocrisia a Gente Vê Por Aí’
Violão distorcido, bateria de bumbo, caixa e chimbal, vozes sujas e uma estética lo-fi meio rockabilly embriagada nos ideais punks. Isso resume ‘Hipocrisia a Gente Vê Por Aí’, o quinto EP de The Solitaryman Monoband, o projeto de um homem só do músico Cacá Côgo. Lançado em agosto de forma totalmente independente, o registro é bem rápido e cru — e não poderia ser diferente. Ainda assim, suas 6 canções ácidas, urgentes e cheias de críticas sociais são bem pertinentes ao contexto atual — além de serem bem divertidas. Vale a pena ouvir a faixa título e “Bozo”.
15. Dan Abranches, ‘Flor de Laranjeira’
“Eu queria passar uma leveza pras pessoas nesse momento. Acho que é a intenção desse EP, porque é o que ele fez por mim. Eu espero que a minha música conforte”, nos confidenciou o cantor e compositor cachoeirense Dan Abranches sobre seu mais recente trabalho, ‘Flor de Laranjeira’. Lançado em setembro, o EP trouxe 3 canções numa pegada bem diferente de seu antecessor, Ruby’ (2017), que tinha uma vibe muito mais eletrônica. Entretanto, cabe lembrar que desde então Abranches teve um surpreendente amadurecimento musical. Foram diversas experimentações e uma impressionante passagem pelo The Voice Brasil — sendo ele o primeiro homem trans a participar do programa. Diante disso, ‘Flor de Laranjeira’ mostra um músico muito mais confortável com sua língua (optando de vez por letras em português) e pronto para se arriscar em camadas sonoras cada vez mais brasileiras. A canção “Laranja” é sem dúvidas a melhor, mas vale a pena escutar o dueto com a cantora Gabriela Brown em “Nó”.
16. AshBürn, ‘You Can Not Kill What Can Never Die’
Depois de anunciar por um tempo que lançaria um disco para dar continuidade ao EP ‘Break The Silence’ (2015), quem diria que a banda AshBürn chegaria com uma bomba justo num ano como 2020? Ótima surpresa poder escutar ‘You Can Not Kill What Can Never Die’ quando parecia que tudo só poderia ficar pior. Lançado em outubro, o disco compensou toda a espera. Funciona como um sensacional álbum de estreia para uma das melhores bandas de power metal do Espírito Santo. São 10 faixas rápidas, empolgantes e perfeitas para serem ouvidas ao vivo, enquanto se balança a cabeça. Nosso destaque certamente é “Forevermore”.
17. Rodrigo Novo, ‘Sítio’
“Algumas coisas atrasaram, mas está perto”, nos disse o cantor e compositor Rodrigo Novo ainda em julho sobre o trabalho que se tornaria o sucessor de seu EP de estreia, ‘Lá e Cá’ (2017). Exatos três meses depois saiu ‘Sítio’, seu tão aguardado primeiro álbum cheio. Com 12 belíssimas canções e incríveis participações de André Prando, Ana Muller, A Transe e Felipe Duriez, o disco traz uma gostosa sensação bucólica de uma temporada no campo, longe de qualquer urgência cosmopolita. Permite ao ouvinte entrar em sintonia com todas as reflexões que ele pode ter de si mesmo e do “sítio” em que se encontra. Também reflete muito bem a própria atmosfera em que foi gravado: no sítio Vale do Sol, em Biriricas, por onde Novo passou boa parte dessa quarentena. “Espero que com minhas músicas e outras que interpreto eu possa [trazer] leveza, calma e autorreflexão”, nos contou o artista. Escute tudo sem medo. Se não puder, não deixe de visitar as faixas “Miragem” e “Chuva”.
18. Alinne Garruth, ‘Abre Alas’
Lançado em outubro, ‘Abre Alas’ é o EP de estreia da cantora cachoeirense Alinne Garruth. Com influências notórias do pop e da R&B, o registro torna-se ainda mais autêntico e diverso com a introdução de elementos latinos de reggaeton e salsa. Ter juntado os singles que ela já vinha lançando desde o ano passado com ótimas canções inéditas também funcionou muito bem. Inclusive nos deu um belo vislumbre do amadurecimento que a cantora teve nessa trajetória. Nossa indicação fica na tranquila e saudosa “Eu”.
19. Thaysa Pizzolato, ‘Low Hype Machine’
“Esse tempo em casa [acabou] sendo proveitoso nesse sentido de tirar vontades antigas do papel”, nos disse a multi-instrumentista Thaysa Pizzolato ainda em junho sobre suas composições em quarentena. Conhecida por dominar a cena dos teclados da Grande Vitória, ela aproveitou esse tempo longe de sua banda principal, a Auri, para se dedicar à criação de um home studio e focar nessas suas “vontades antigas”. Disso saiu ‘Low Hype Machine’, o EP que marca a estreia de sua carreira solo. Lançado em novembro, ele foi concebido como uma trilha sonora. Reúne 6 canções instrumentais cheias de sintetizadores e numa estética autointitulada “futuro do passado”. Ideal para os fãs de Vangelis e Blade Runner. Escutem “Mayday” e “Mayhem” — e aproveitem para ouvir as que estão entre essas também, por favor.
20. 6ok, ‘Aconteceu O Que Tinha Que Acontecer’
“Eu tô sentindo que as coisas que eu tenho pronta são bastante atemporais”, nos disse o rapper cachoeirense 6ok ainda em maio, quando conversávamos sobre seu trabalho durante a pandemia. “Eu não preciso estar correndo, porque eu sei que as coisas acontecem do jeito que elas têm que acontecer e no tempo que elas têm que acontecer”. Parece que ele já tinha uma ideia bem sólida sobre a temática por trás de seu primeiro disco solo pós-Solveris, que foi lançado meses depois, em novembro. E já era de se esperar, visto que o álbum é fruto de um trabalho de 2 anos de planejamento. São 13 faixas autobiográficas que transitam pelo trap, retro wave e West Coast. Nosso destaque vai para “Let’s Go”.
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21. Festina Lente, ‘Nenhum Sinal de Confusão’
A expressão “Nenhum Sinal de Confusão” foi inicialmente introduzida pela banda de rock Festina Lente no início de 2019, quando eles a usaram como o nome do single sucessor do EP ‘Toda Forma de Amor Vale a Pena’ (2017). Um ano e alguns singles mais tarde, ela voltou como o título do novo álbum do grupo, lançado em novembro do ano passado. Com 10 músicas distribuídas em pouco mais de 40 minutos, ele parece até ter sido formulado numa onda de lado A e lado B, com as faixas mais agitadas e enérgicas ao início e as mais reflexivas ao final. Sobre a temática das composições, o vocalista, letrista e guitarrista da banda, João Santos, é bem enfático: “Desde o começo escrevo canções que propõem reflexões sobre o cotidiano, as diferenças, as injustiças e sobretudo as questões sociais”. No “lado A” recomendamos “O Passageiro” e “Last Star” (que conta com a participação de Marcelo Rennó, vocalista da banda Fixer), enquanto no “lado B” ficamos com a ousada “Dance, Dance”.
22. Os Últimos Mustangues, ‘A Rebelião dos Drones’
O grupo de rock da capital Os Últimos Mustangues parece estar numa missão: fazer um lançamento por ano. Em 2018 os caras estrearam com o EP ‘Alice’ e no ano seguinte soltaram ‘Whiskey Barato e Decisões Questionáveis’. Já no ano passado, o trabalho da vez foi o belo ‘A Rebelião dos Drones’, que saiu em novembro. Envolto numa temática meio futurista e distópica, o disco trouxe uma roupagem mais pesada e sólida à mescla de rock alternativo e folk já característica dos caras. São 6 canções que podem ser consideradas as melhores e mais maduras composições da carreira do quarteto. Recomendamos “Residual / Estacionário” e “Stalingrado”, mas se você curte o trabalho da banda Auri, escute “La Marinera Blues”, que conta com a participação de seu vocalista, Everton Radaell.
23. Laika, ‘Vaidade’
Formada por nomes conhecidos do meio underground de Vila Velha — Felipe Dias (Tarde Mais Densa), Marden Vitor (Histona), Victor Cabral (Outras Velharias, Swamp) e Mylena Kobi (The Truckers) —, a Laika deu as caras em fevereiro, quando apareceu com o EP ‘Singela’. No entanto, a animação dessa estreia não durou muito e a banda logo se viu frustrada por conta da pandemia. Sem muitas alternativas, o quarteto recorreu às lives para divulgar o material que tinha preparado e ficou no aguardo de tempos melhores — como todos nós. A diferença é que eles não ficaram de braços cruzados e aproveitaram essa temporada sem shows e outros compromissos para logo produzir um sucessor para ‘Singela’. “É com coração transbordando que anunciamos nosso segundo EP”, publicou a banda em seu Instagram ao lançar ‘Vaidade’, no início de dezembro. São 3 canções que passeiam pela esfera do rock alternativo somada a elementos da onda emo mais true da virada do milênio. Atenção na faixa de abertura, “Aperto”.
24. Silva, ‘Cinco’
“Representa pra mim um novo ciclo em minha identidade como pessoa e artista”, publicou todo orgulhoso o músico Silva em seu Instagram na noite de lançamento do álbum, em dezembro. “Eu e meu irmão, Lucas, pudemos como nunca focar em todo longo processo de composição, faixa a faixa, sem correria, como amamos fazer. E o resultado é esse álbum, que muito me orgulha”. O quinto disco do cantor — apropriadamente intitulado ‘Cinco’ — veio com 14 músicas que evocam diversos gêneros. Seguindo a direção adotada em seu predecessor, o excelente ‘Brasileiro’ (2018), ‘Cinco’ tem momentos de samba, MPB, pop, reggae e até soul. Além disso, merecem destaque as participações do rapper Criolo, do compositor João Donato e da própria Anitta, que já havia colaborado com Silva na música “Fica Tudo Bem”. “Espero que meu disco te inspire e te emocione, que tire qualquer eventual poeira dos seus olhos, para que você possa ver que a vida, mesmo quando dura, vale ser vivida com leveza e beleza”, comentou. Nossas recomendações vão para “Quimera” e “Facinho”.
25. Ana Muller, ‘Prelúdio’
Depois do vulnerável e corajoso ‘Incompreensível’ (2019), a cantora de Ibatiba Ana Muller fechou o ano com ‘Prelúdio’. Lançado em dezembro e gravado ao vivo na Sala Taquetá, em São Paulo, o registro foi feito inteiramente em voz e violão — o mesmo formato que ajudou a catapultá-la ao sucesso quando ela ainda se apoiava inteiramente na gravação de vídeos caseiros voltados ao YouTube. Além de ser um intimista e refrescante reencontro com diversas canções que marcaram o início de sua carreira, Muller espera que este disco seja um teaser de seu próximo trabalho, que, segundo ela, contará com mais suingue e brasilidades. Nossos destaques ficam no dueto que ela faz com Rodrigo Alarcon em “Me Olha”, além da inédita “Que Que Isso, Doutor?”.
26. Macucos, ‘Revolução do Amor’
“Muito mais do que um álbum cheio de músicas lindas comemorando nossos vinte anos de carreira, esse disco é sim, um grito de amor e liberdade”, publicou o grupo Macucos em seu Instagram no dia 18 de dezembro, quando saiu ‘Revolução do Amor’. 20 anos…. Se manter na ativa com a mesma banda por duas décadas não é tarefa pra qualquer um — tanto é que a recompensa costuma ser alta para quem consegue perdurar. Faça um teste. Pergunte a qualquer um por aqui: “Quem é Macucos?”. Gostando ou não, a resposta será sempre a mesma: “Uma das maiores bandas de reggae do estado, claro!”. Pois é, aí está. E isso não quer dizer que os caras estão acomodados. Muito pelo contrário. Buscando novos desafios e uma certa renovação, ainda em 2019 eles recrutaram o produtor Rodolfo Simor (Silva, André Prando, Gabriela Brown) e resolveram introduzir novos elementos ao seu trabalho. Seguindo essa linha, ‘Revolução do Amor’ trouxe uma significativa influência de reggaeton e rap às suas 9 canções, garantindo frescor e uma saudável dúvida sobre quais serão os próximos caminhos que o grupo pretende trilhar nos seus, quem sabe, próximos 20 anos. Recomendamos as ótimas “Só Mais um Rolê” e “Colecionando Momentos”.
27. Fepaschoal, ‘Monazita’
“Meu presente de fim de ano para vocês, na humildade, junto a desejos de um 2021 bem melhor. Muita força, luz, saúde, consciência e arte pra nós”, publicou o músico Fepaschoal em seu Instagram na véspera de natal. Seu presente pra nós veio na figura de seu mais novo trabalho, o EP ‘Monazita’, um simples e agradabilíssimo apanhado de 3 músicas e diversos sentimentos. “Eu crio, porque tô afim de criar e não porque preciso”, nos disse o compositor ainda no início do ano. “Acho que quando temos total liberdade para criar algo, parece que a coisa flui de um jeito diferente”. Ele certamente não estava enganado quando disse isso. Apesar de ‘Monazita’ ter apenas 12 minutos, seu conteúdo é extremamente rico em ritmos, instrumentos, atmosferas, suingue, melodias e letras espertas e cheias de referências ao Espírito Santo — como “a areia monazítica do balneário de Guarapari”, sua cidade natal, e a estratégia que a jovem Maria Ortiz usou para conter o ataque dos holandeses em 1625 (“bota a água pra ferver”). A música “Maria Ortiz”, por sinal, é o nosso destaque. Boa demais. Mandou bem, Fepas!
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Texto: João Depoli | @joaodepoli.