Dando sequência à nossa série de indicações, hoje conversamos com uma pessoa que está num lugar um tanto quanto absurdo quando o assunto é pandemia. Imagine só passar por esse período longe de casa e afastado de toda a sua família e amigos. Agora pense em passar por isso fora do país. E que tal num lugar bem distante, onde a língua oficial não é nem o inglês, ou espanhol, ou algo que você esteja habituado? E se eu te dissesse que estamos falando da China, o epicentro de tudo isso?
Pois é. Este é exatamente o país que o nosso amigo Hugo Ali tem chamado de “lar” pelos últimos 2 anos.
Quando está no Brasil, Ali é o vocalista e guitarrista da pesada Broken & Burnt e o também o baterista da Blackslug. Já na China, ele se mantém igualmente ativo, tendo arrumado duas novas bandas: Shitsunami e 你妈买啤酒 (ni ma mai pi jiu) — nem adianta me perguntar.
Como indicação aos amigos brasileiros, Hugo fez uma ótima escolha: “Ouvi muita coisa nova durante essa epidemia… mas vou indicar o Pure Comedy, do Father John Misty”.
Lançado em 2017, este é o terceiro disco que o norte-americano Josh Tillman gravou sob o pseudônimo Father John Misty. Na época em que saiu, o músico inclusive enviou um texto para seu fã-clube tratando do significado e simbolismo por trás do disco.
“Pure Comedy é a história de uma espécie que nasceu com um cérebro pela metade. A única esperança de sobrevivência desta espécie — que vive num cruel e imprevisível buraco cercado por outras espécies que parecem ser muito mais adaptadas a tudo isso (e a quem ela é deliciosa) — é confiar em outras criaturas um pouco mais velhas e também com os cérebros pela metade. Essa confiança assume diferentes nomes à medida que a história se desenrola, como ‘amor’, ‘cultura’, ‘família’, etc. Com o passar do tempo, e enquanto seus cérebros provam ser incrivelmente bons em inventar sentido onde não há nenhum, a espécie se torna a fornecedora de ironias cada vez mais bizarras e sofisticadas. Tais ironias são projetadas para ajudá-la a lidar com sua repugnante vulnerabilidade e tentar reconciliar o quão desproporcional é sua imaginação em relação à monotonia de sua existência”, escreveu Tillman.
“O álbum soa classudo e suave, mas ao mesmo tempo as canções trazem letras ácidas, sarcásticas, realistas e, em alguns momentos, vulneráveis” destacou Hugo, que parece ter compreendido muito bem toda a narrativa cataclísmica que circunda este disco. Seus destaques vão para a faixa-título, “Ballad of The Dying Man”, “A Bigger Paper Bag” e “Total Entertainment Forever”.
“Vale o play completo”, finaliza.
Vamos lá?
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Texto: João Depoli | @joaodepoli.