A última vez que conversei formalmente com a minha convidada de hoje foi ainda em 2018, durante sua breve estadia na casa de Francesca Pera e Fernando Zorzal (A Transe). Na época ela estava produzindo o disco de estreia do casal — o delicioso Hora Dourada (2019) — e ainda atendia pelo sobrenome de seu pai. Agora, quase dois anos depois, ela morou um tempo em Recife e, nessa jornada de transição, passou a adotar o sobrenome de sua mãe. Estou falando de Gabriela Terra, líder do My Magical Glowing Lens, cujo registro mais recente desde o álbum Cosmos (2017) foi uma versão ao vivo da inédita “Voa Canção”, apresentada de forma acústica no projeto Girls In The Van.
“A vontade de efetuar essa mudança era antiga, mas esperei estar realmente bem com meu pai para fazê-la de modo não violento”, informou Gabriela ainda em dezembro sobre a transição de Deptulski para Terra. “Obrigada meu pai por ter me ensinado sempre coisas que os outros diziam que eram ‘coisas de homem’. Obrigada à minha mãe por sempre ter sido meu exemplo de mulher livre e independente”.
Quanto à sua ida para Recife, essa decisão foi motivada por uma vontade de continuar expandindo seus horizontes, afinal, ela já estava entre Vitória e Colatina há mais de 10 anos. “Fiz uma turnê em 2016 pelo Nordeste e me encantei pela região”, revelou Gabriela ainda em janeiro. “Quando voltei para lá em 2019, conheci pessoas maravilhosas que estavam muito engajadas em ajudar no meu projeto, pra muito além do dinheiro e da fama”.
Agora que nos atualizamos quanto a isso, hoje ela está de volta ao Inferno Santo para fazer uma indicação de disco para ouvirmos durante essa quarentena. Sua escolha foi Mix$take, do músico baiano Giovani Cidreira.
Lançado em 2019, o registro foi produzido em parceria com Benke Ferraz, da banda goiana Boogarins (com quem Gabriela inclusive tocou recentemente, quando eles estiveram em Vitória para shows na Fluente e na Guava). Com pouco mais de 20 minutos distribuídos em sete canções que transitam entre pop, indie, R&B e MPB, Mix$take teve uma crítica bastante positiva. Foi enaltecido pelo exercício demonstrado de desconstrução artística e também por ser um indicativo de uma nova proposta de sonoridade para Cidreira.
Mas não acaba por aí. Gabriela também aproveitou a ocasião para reunir 26 músicas numa playlist chamada “brasil após-calypso #3 edição RAP / HIP HOP 2020”. Com diversos nomes do cenário nacional, merecem destaque alguns artistas capixabas que compõem esse grupo, como Mary Jane, Afari, Budah, Bocaum, Akilla e mais.
Migrando para essa coleção mais orientada ao rap e o hip hop, ficamos inclusive mais próximos da indicação de disco feita hoje cedo pelo rapper Axânt (que inclusive aparece numa das faixas desta playlist).
Aproveitem agora essa incrível seleção de músicas e logo retornamos com Terra no episódio da Quarentalks dessa semana.
Clique aqui e confira as recomendações musicais feitas pelos demais artistas que participaram da série Quarentalks.
Texto: João Depoli | @joaodepoli.
